O Brasil enfrentará uma onda de calor nas próximas duas semanas, com temperaturas altas em todas as cinco regiões do país. O calor será tanto que oferecerá risco à vida, conforme análise da MetSul.
De acordo com a previsão, o pico de altas temperaturas deve ocorrer entre o final desta semana e o começo da outra. Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Distrito Federal, Pará, Tocantins, Bahia, Rondônia, Amazonas, Maranhão e Piauí terão marcas perto ou acima de 40°C.
Alguns pontos da região Centro-Oeste devem sofrer com marcas entre 43°C a 45°C. A expectativa é de que o calor bata o recorde de novembro de 2020, quando Nova Maringá, no Mato Grosso, registrou 44,8°C.
Entenda como o calor provoca risco à saúde
De acordo com uma série de publicações da revista científica The Lancet, que contaram com o apoio do Centro de Estudo Global de Doenças, Lesões e Fatores de Risco, o calor e o frio extremos estão associados a 17 causas de morte. A maioria delas é de doenças cardiorrespiratórias ou metabólicas, mas suicídio também está relacionado à essa variação de temperatura do planeta.
Os autores estimam que, até 2019, mais de 356 mil mortes estavam relacionadas com o calor extremo. “Embora estas estimativas globais carreguem incertezas inerentes, o estudo mostra a importância da temperatura como fator global de risco para a saúde”, indica o documento. O estudo foi produzido por pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e China.
Os especialistas explicam que o corpo humano responde ao estresse térmico com a redistribuição do fluxo sanguíneo. São duas formas primárias: para a pele, através da vasodilatação, e para o ambiente, por meio do suor. O cérebro regula as respostas fisiológicas usando o sistema nervoso. Entretanto, essa ação tem impactos diferentes para algumas pessoas.
Segundo a publicação, a redistribuição e aumento do fluxo sanguíneo aumenta a demanda cardíaca e diminui a pressão de enchimento do coração. As respostas fisiológicas exigem que órgão bombeie mais forte e mais rapidamente. Isso pode ser um problema para pessoas com doenças cardíacas pré-existentes e levar a um desajuste das taxas de oxigênio no corpo.
Nessas condições, é possível que ocorra um colapso do sistema cardiovascular. Além disso, os pesquisadores acreditam que a produção de suor pode levar à desidratação se a quantidade de água corporal não for adequadamente reabastecida. “A desidratação diminui o volume de sangue, o que pode eventualmente exacerbar a tensão cardiovascular e também levar à lesão e falência renal aguda”, afirma o estudo.
De acordo com o médico Lucas Vargas, chefe do atendimento clínico do Hospital Santa Lúcia Norte e Santa Lúcia Gama, além de desidratação, a temperatura elevada pode provocar uma espécie de pane no metabolismo.
“A temperatura alta no corpo pode resultar na quebra de proteínas essenciais, prejudicando funções vitais do organismo”, relata Vargas. Para ele, os mais vulneráveis são idosos e bebês, que têm menos capacidade de adaptação às variações climáticas e, muitas vezes, precisam do cuidado de outras pessoas para se protegerem.
Acidente Vascular Cerebral e danos celulares
A publicação da revista The Lancet mostra que, em condições de estresse térmico extremo, a capacidade termorreguladora do corpo pode ser prejudicada e resultar em sobreaquecimento que pode progredir para um acidente vascular cerebral.
Os cientistas apontam para o fato de que altas temperaturas corporais combinadas com isquemia e aumento do estresse cardíaco podem causar danos nas células de órgãos como cérebro e pulmões.
Segundo o estudo, os danos nos tecidos pulmonares ocorrem sob a forma de edema pulmonar e síndrome do desconforto respiratório agudo. O problema, quando combinado com condições respiratórias pré-existentes e o aumento do estresse pulmonar, é a segunda maior causa de morte durante as ondas de calor.
Fonte: METROPOLES